Text: Rui Miguel
“O Cabalista” é um magistral romance acerca da ambição e do egoísmo, repleto de grandes ensinamentos e erotismo, baseado em personagens e factos verídicos. O autor, o belga Geert Kimpen, esteve em Portugal para o lançamento da sua obra, que tal como ele, cativa do primeiro ao último segundo. À L&G fez surpreendentes confi dências.
No inicio não sabia nada sobre a Cabala, tal como a maioria das pessoas, ouvi falar dela pelo mediatismo provocado por Madonna. E quando decidi que iria escrever, seria sobre as grandes questões da vida: qual a razão porque existimos, qual o signifi cado da vida, se existe vida depois da morte, se Deus existe. Comecei por escrever uma carta muito furiosa a Deus, estava muito zangado por querer saber respostas e só obter respostas que me diziam “tens de acreditar, ou temos de ver no contexto” - esse tipo de respostas - e queria coisas concretas. Escrevi essa carta, e no dia seguinte quando liguei o computador tinha um e-mail de um rabi, professor judeu, que não conhecia e que não sei como conseguiu o meu contacto. Ele convidou-me para ter lições de Cabala, o que para mim foi muito estranho, porque num dia estava a pedir respostas a Deus e no dia seguinte tenho esta resposta, então decidi ter as lições.
O que me atraiu na Cabala é que não funciona como uma crença ou como uma religião, é mais uma ciência. E os fundamentos da Cabala dizem que não temos de acreditar em nada só porque está escrito, até o experienciarmos ou termos descoberto que é verdade e que o podemos integrar na nossa vida ou no nosso conhecimento.
A cabala é muito antiga, tem mais de 3 mil anos, segundo os textos mais antigos já encontrados. É um estudo sobre a Tora. E a Tora é os primeiros 5 livros do Antigo Testamento tal como no Catolicismo. Dizem que se lermos estas histórias tal como são, então não estamos a ler tudo, no Judaísmo cada letra e cada número têm um signifi cado, como tal os textos são analisados e são descobertos novos signifi cados por detrás desses textos. O que foi descoberto por detrás desses textos é tão extraordinário que é quase impossível de acreditar que tenha sido escrito por um humano, porque é como um criptograma enorme e por todo o lado existem ligações que nos levam para o nível seguinte. Acredita-se que existam cerca de 70 níveis dentro desses textos, os Cabalistas analisam os signifi cados desses textos e tentam entender esse criptograma. Por exemplo os Cabalistas já sabiam há 3 mil anos que o mundo tinha sido criado pelo Big Bang e não por um Deus que disse que iria criar a Terra.
Sim, e s cada nova geração descobre-se um novo signifi cado escondido dentro dos textos. Nesta Era foram introduzidos os textos e os códigos no computador e descobriram um nível histórico que conta toda a história da humanidade, como por exemplo as Twin Towers. Na história da Torre de Babel, foi descoberto um criptograma que revela a tragédia do 11 de Setembro, e todos os nomes que nela estiveram envolvidos. Fala ainda de Shakespeare com todo o seu importante trabalho, bem como todas as pessoas importantes na história estão representados nesses 70 níveis.
Sim, quem sabe um dia poderá estar acabado, mas até agora ainda está em desenvolvimento. Há 2 Mil anos atrás um cabalista descobriu nos textos que nesta nossa Era a Cabala seria conhecida por muitas pessoas por causa de uma pessoa muito famosa, a Madonna, e apenas alguns Judeus sabiam deste facto.
Existem duas grandes correntes Cabalistas, se assim se pode dizer, existem em Israel, Judeus Ortodoxos que afi rmam que a Cabala deveria ser só para os Judeus e que o resto do mundo não deveria ter acesso a estes conhecimentos porque nós somos os escolhidos e apenas nós sabemos como lidar com este conhecimento, pois com ele pode-se criar coisas muito boas mas também coisas muito más. E a outra grande corrente não aceita esta teoria. Esta é a altura de espalharmos a nossa sabedoria pelo mundo e que todos podem usá-lo para fazer o que o mundo precisa, e que todos podem partilhar deste conhecimento.
Foi alucinante, porque a história do livro é baseada em duas pessoas, um professor e um jovem pupilo, que viveram no século dezasseis. A primeira personagem, um jovem muito ambicioso que quer partilhar o conhecimento e escrever um livro que todos pudessem ler e entender sobre o signifi cado da Cabala. E no caso desta personagem também o seu professor roubou-lhe o livro. Quatrocentos anos depois eu escrevi esta história, e aconteceu-me o mesmo com o meu professor, que me inspirou para escrever a história destas duas personagens. Dei-lhe a primeira versão do livro, e fui viajar pelo mundo para fazer entrevistas, e quando voltei ele tinha pegado nessa versão e publicou-a com o nome dele, foi como um pesadelo, porque deixei todos os meus projectos anteriores para me dedicar a este, e de repente vi o meu trabalho publicado por outra pessoa nas livrarias holandesas.
Sim, num dos dias enquanto estava no centro Cabalista em Londres, a ter lições, ela entrou e algo aconteceu. Imediatamente pensei que lhe tinha de dar uma versão inglesa do meu livro. Consegui sair da lição e escrevi uma pequena mensagem na primeira página, e quando ela saiu dei-lhe o livro. Falei um pouco com ela e alguns meses depois o CD “Confessions On A Dance Floor” foi lançado, e a faixa número 10 chama-se Isaac, que é uma das duas personagens deste livro.
Não o digo por estar aqui, mas estou apaixonado por Portugal. Quando estive aqui, há 10 anos, como jornalista a entrevistar o escritor Paulo Coelho, e no fi nal da entrevista ele disse-me “sei de certeza que voltará a estar em Lisboa e dessa vez será como escritor” (risos). E acabei por fi car de férias. Viajei de carro por todo o país, e foram umas das férias mais excitantes que já tive.
Quando fomos a Fátima, em peregrinação, ouvimos que uma das três crianças que tinha estado com Nossa Senhora ainda estava viva e que vivia num mosteiro em Coimbra. Pensámos de imediato que tínhamos de a conhecer, fomos até Coimbra, e normalmente não se pode entrar dentro dos mosteiros, mas a minha mulher bateu à porta, e convidaram-na a entrar. A irmã Lúcia, que já não falava nem recebia ninguém, disse a alguém que queria conhecer a minha mulher, então convidou-a a entrar e apesar de não saber falar Inglês tiveram um contacto intenso. Em Portugal aconteceram sempre coisas tão místicas como o próprio país e as pessoas.